sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vontade de comer mahine em Lubango


Entremeio de doce de morango. Leve, doce, suave. Ar que respira. Diante dele não respiro o mesmo ar que os angolanos que encontrei, olhei, cruzei, ultrapassei, que me olharam, me encararam, nem me viram. E ainda assim me faço leve. Este pedaço de bolo que trago à boca me faz consciente de meu estado e das minhas possibilidades. Ao olhá-lo parece um bolo comum, até pode ser como um bolo com recheio de geléia de morango, mas a maneria como recebe o garfo faz dele um bolo diferente. À maneira de como recebemos a coisas do mundo nos faz pessoas diferentes.
Hoje Carlitos me contou que na província de Cabinda a macumba é muito forte. E macumba não é um feitiço do mal, é apenas um feitiço. Conto então o contado. Um rapaz de Luanda vai morar em Cabinda devido ao seu trabalho. Depois de um tempo arruma uma namorada e casa-se com ela. Então, por motivo de trabalho volta a morar em Luanda, levando a esposa. Em Luanda ela adoece e morre. O rapaz faz o funeral da moça e segue para Cabinda com o objetivo de avisar a família do acontecido. Lá chegando chama à porta e quem atende é sua falecida esposa. Levada de volta pela família. Macumba. A simpatia de Carlitos de Lubango sustenta a leveza do bolo. Me faz estar na África. Histórias. Contados. Kimbandeiros. Me faz querer ver as palancas negras, da nota de 10 kwanzas, na província de Malange. Vontade de comer mahine em Lubango. As saudades de Carlitos.

Pequeno glossário

Lubango: cidade que fica no sul de Angola. Capital da província de Huíla.
Kimbandeiro: sacerdote de religiões tradicionais africanas.
Mahine: comida típica de Lubango. É uma mistura de funge (fubá) de milho com leite de vaca tirado na hora. Após comer, usa-se o resto do mahine como hidratante, passando-o pelo corpo.
Palanca negra: Animal originário das savanas da África austral. Sua figura está estampada na nota de 10 kwanzas, a moeda local.

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