sábado, 23 de maio de 2009

Para não ser apenas uma mina de ouro


Perplexo. Amplexo Complexo. Luanda me encontrou andando, pegou meu bonde e sentou na janelinha. Para onde olhar. Luanda é inevitavelmente um lugar inusitado. Não apenas por estar na África, continente distante, terra-mãe, continente exótico, místico, original. Inusitado por sua complexa mistura pouco dissolvida da cultura tradicional com a sempre presente cultura portuguesa, que introjetada na sociedade angolana construiu o país à sua moda, e os gringos que vêm ganhar seus milhões de dólares, ficando no país por dias, semanas, ou uns três meses.
Angola, e mais explicitamente Luanda, ainda está sendo construída, re-construída. E além dos guindastes, dos edifícios em construção, das roupas penduradas pelas janelas, as ruínas da guerra civil e as zungueiras vendendo mandioca, banana, cana, doces, e que fizeram fluir os mercados. Mulheres guerreiras e suas crianças, nos panos, nas costas, canguruzando pelas ruas. Para não ser apenas uma mina de ouro, petróleo e diamantes. Não reproduzir os dizeres, as imagens, os costumes. Deixar de querer ser o outro.
Após libertar-se do domínio português - foram 400 anos de colônia, de 1575 a 1975 - Angola esteve em guerra civil por 27 anos, de 1975 a 2002. Os três principais grupos que lutaram pela independência de Angola entraram em conflito pelo controle do país: a MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), partido ligado à ex-União Soviética e à Cuba, a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), ligada aos Estados Unidos e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelos Estados Unidos, o regime apartheid da África do Sul e outros países africanos.
Se o Brasil "libertou-se" do domínio político luso há 187 anos, expulsando aqueles brasileiros de volta à Lisboa, agora é referência para a música, as novelas, as roupas, o comportamento, os cabelos alisados das angolanas. Eu, novo brasileiro, busco aqui saber de onde vim. E de onde vem essa força toda de um povo que se sustenta com funge e vontade.

2 comentários:

  1. Meu caro,
    Vivenciei essas suas mesmas sensações ao chegar em Loanda no ano passado e coloquei algumas no Casa de Luanda. Vou ler com atenção duas impressões e espero que tudo corra bem aí, pq Angola é uma experiência inesquecível e bela.
    Um abraço, o X., da Casa de Luanda

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  2. André,
    que legal te reencontrar tão longe e tão perto. Adriano me passou o link. A TV nos unirá para sempre.
    Feliz de Angola que recebe seus afetos e competências.
    Saudades, Marília

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